
Nunca mais a vida foi a mesma!
Partilhamos, hoje, um artigo de opinião sobre a vida em tempos de pandemia, de Carolina Moreira, Psicóloga Clínica na Equipa Local de Intervenção (ELI) / Intervenção Precoce na Infância (IPI) da Cercimarante, que foi publicado no volume III da Revista Digital ACes Baixo Tâmega:
“NUNCA MAIS A VIDA FOI A MESMA!”
“Nunca mais a vida foi a mesma, maldita pandemia! Estarei eu saudável mentalmente?”
A pandemia continua aí e não sabemos até quando.
Por via dela, as pessoas são obrigadas ao confinamento imposto pelas autoridades, ao distanciamento social, mas muito mais importante, o distanciamento físico. As pessoas deixaram de poder usufruir da coisa mais normal e banal num ser humano: o toque. Inerente a isso, está o medo da infeção e a crise económica que a pandemia veio acarretar.
Tudo o que as pessoas perspetivaram, todos os planos, foi tudo adiado. Os hábitos de vida tiveram de ser reajustados. A vida nunca mais foi a mesma. Com isso, veio o aumento do stress, a pressão da crise e a ansiedade. São vetores suficientes para desequilibrarem a nossa saúde mental.
E a incerteza de um futuro sem medo?
Não vai há muito tempo, estive particularmente atenta ao que disse o bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses. Em declarações que atentei na SIC Notícias, o bastonário alertava para os impactos da pandemia no que à saúde mental diz respeito. Ele prevê que cresçam, nos próximos meses.
Muito vai contribuir, considera, o aumento do desemprego e da crise económica.
O que podemos fazer para não nos deixarmos afetar?
Francisco Miranda Rodrigues afirma, por exemplo, que o aconselhamento psicológico na linha telefónica do SNS24 veio melhorar a resposta ao impacto da pandemia na saúde mental, e que o serviço é um passo histórico em “plena crise”. No entanto, será suficiente?
Será que não se tornar fundamental procurar ajuda profissional mais específica. Não será limitado esse aconselhamento psicológico na linha telefónica?
“Muitas vezes os psicólogos identificam a necessidade de ter que ter algum acompanhamento. Esse mecanismo de encaminhamento para o Serviço Nacional de Saúde não existe”, argumentou o bastonário, no mesmo canal televisivo.
Na dúvida, o melhor caminho é pedir ajuda.
A pandemia traz a ideia de contaminação. Imagine isto: uma pessoa que tenha uma perturbação obsessiva compulsiva pode sofrer um aumento dos sintomas. E o mesmo acontece com alguém que tinha a doença controlada, há anos.
Pela minha experiência pessoal e profissional, dou conta de situações de pacientes, que já não via há muitos anos, porque estavam num processo saudável de estabilização. De repente, com a pandemia, as pessoas voltaram às consultas. Voltaram a desestabilizar-se. Voltam ao sofrimento psicológico. Nada mais normal. Umas porque sentem uma ansiedade crescente associada a ataque de pânico, ou pior, pela incerteza de não saberem, ao certo, o que lhes vai acontecer, no futuro.
Termino esta minha reflexão com o título deste artigo: “Nunca mais a vida foi a mesma, maldita pandemia! Estarei eu saudável mentalmente?” – sim, são palavras minhas. Qualquer pessoa pode questionar-se desta forma. O melhor caminho, na dúvida, é procurar ajuda.
Porque há sempre solução perto de um profissional de saúde. Importante é reconhecermos os sinais, sem tabus nem preconceitos.
| Autoria: Carolina Moreira, Psicóloga Clínica na Equipa Local de Intervenção (ELI) / Intervenção Precoce na Infância (IPI) da Cercimarante